“Dorme neném, que a Cuca vem pegar. Papai foi na roça, mamãe foi passear”
Quem nunca ouviu essa música na infância, não é mesmo?
As lendas brasileiras fazem parte da nossa infância. Quando pensamos em Cuca, rapidamente nos lembramos de Monteiro Lobato, do Sítio do Pica Pau Amarelo e da mulher de cabelos loiros com cara e corpo de jacaré. Recentemente, vimos a Cuca da série brasileira da Netflix, “Cidade Invisível”, interpretada por Alessandra Negrini. Na série, Cuca atende pelo nome de Inês, é uma mulher que vive entre os humanos e, denuncia sua presença através de um bando de borboletas.
A forma tradicional pela qual a lenda da Cuca se estabeleceu na cultura popular brasileira é a de uma velha enrugada de cabelos brancos e corpo encurvado. Essa imagem acabou sendo substituída por outra, que foi popularizada graças a Monteiro Lobato. Na versão do escritor, Cuca é representada por uma velha com cabeça de jacaré e que possui uma voz assustadora. De acordo com a lenda, a Cuca assusta e pega crianças que desobedecem os pais. Por isso, os pais tentam convencer as crianças a dormirem na hora correta, para não serem levados pela Cuca.
Diz a lenda que a Cuca tem origem no folclore galego-português, baseada na criatura “Coca”, que significa “Crânio ou cabeça”. Também chamada de Bicho-Papão ou fantasma. Em Portugal, era representada por um dragão que havia sido morto por um santo, que ficava à espreita nos telhados das casas, em busca de crianças desobedientes para raptá-las. Em outros relatos, era chamada de Santa Coca, aparecendo nas procissões da província do Minho. Nessa região era comum desenhar um rosto tenebroso em uma abóbora e colocá-la em locais públicos da vila/aldeia com o cair da noite. A abóbora era decorada com uma vela, que destacava o rosto assustador e tinha como propósito assustar as crianças.
A lenda teria chegado ao Brasil junto com os portugueses, durante o período de colonização.
Diz a lenda que a Cuca dorme uma vez a cada sete anos. Quando ela completa mil anos, aparece um ovo próximo a sua casa e, dele, surge uma nova Cuca, que deveria continuar as maldades da antecessora ou ser até mais maldosa. A Cuca com mil anos deve lançar um feitiço e se transformar em um pássaro com canto triste.
Na língua Tupi, Cuca significa “tragar” ou “engolir de uma vez só”.
A influência da cultura africana fez com que alguns lugares começassem a enxergar a Cuca como um negro velho ou negra velha. O folclorista e antropólogo Luís da Câmara Cascudo aponta, por exemplo, que, no idioma mbunda, o termo “cuco” ou “cuca” é usado para se referir a um avô ou avó, portanto a uma pessoa velha. Assim, acredita-se que o “negro velho” era uma versão da Cuca na cultura africana.
A artista brasileira modernista, Tarsila do Amaral, produziu em 1924 uma obra baseada nessa personagem. Atualmente, ela está exposta no Museu de Grenoble, na França.
Gostou de saber mais sobre a Cuca? Já conhecia alguma destas versões? Qual sua versão favorita?
Margarida Marcos
Estudante de História
Autora da Pendragon
Obrigada pela informação, abraços
Muito interessante, obrigada pelo relato